RELAÇÕES DE PODER E EXPERIÊNCIAS DE VIOLÊNCIA NOS SERVIÇOS DE PARTO NA CIDADE DE MAPUTO

Autores

  • Edson Mugabe Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
  • Esmeralda Mariano Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

Palavras-chave:

Maternidade, Parto, Poder, Violência

Resumo

Preocupada em analisar as experiências de mulheres em relação ao parto na Cidade de Maputo, a pesquisa foi feita num contexto em que o Governo de Moçambique vem adoptando estratégias para a humanização dos serviços de saúde, e mostra como as práticas biomédicas nos serviços de parto intercetam as questões de violência, as hierarquias entre mulheres profissionais e utentes e, as diversas formas de agenciamento dos corpos femininos. Orientada pela fenomenologia, como um referencial teórico, articulada ao método etnográfico, a pesquisa providencia evidências de desencontros e lutas nas interacções entre mulheres usuárias dos serviços de maternidade e parteiras. Para além de argumentar que estas interacções tornam a maternidade como um espaço de regulação biomédica e controlo emocional das parturientes, este artigo problematiza a visão política pela qual a noção de humanização do parto foi concebida, ao mesmo tempo que lança desafios na análise e compreensão das relações de poder nos serviços de maternidade.

Referências

ABUYA, T. et al. Exploring the prevalence of disrespect and abuse during childbirth in Kenya. PLoS One, v.10, n.4, p.1–13. 2015.

ALMEIDA, J.; FERREIRA DE; PINTO, J.M. A Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Presença. 1976.

AMORIM, M.C. Experiências de parto e violência na assistência obstétrica. Dissertação (Mestrado em Direitos Humanos) – Curso de Direitos Humanos, Universidade Federal de Goiânia. 2015.

ONU. ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Pequim adoptada pela Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres: acção para Igualdade, Desenvolvimento e Paz. Pequim. 1995.

BARCELLOS, L.G. et al. Cesário: uma visão bioética. Revista Bioética, v.17, n.3, p.497–510. 2009.

BOHREN, M.A. et al. Mistreatment of women during childbirth in Abuja, Nigeria: a qualitative study on perceptions and experiences of women and healthcare providers. Reproductive Health, v14. N9. pp.1–13. 2017. https://doi.org/10.1186/s12978-016-0265-2.

BOURDIEU, P. A dominação masculina. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil 2011.

BOURDIEU, P. Las regras del arte. Géneses y estructura del campo literário. 3ª Ed. Barcelona: Anagrama, 2012,

BOURDIEU, P. Espacio social y poder simbólico, en Pierre Bourdieu. Cosas dichas, Buenos Aires: Gedisa, 1988.

CAPRARA, A.; FRANCO, LSA. A relação paciente-médico: para uma humanização da prática médica. Cadernos de Saúde Pública, v.15, n.3, pp.647-654, 1999.

CAPRARA, A.; RODRIGUES, J. A relação assimétrica medico-paciente: repensando o vínculo terapêutico. Ciência e Saúde Colectiva, v.9, n.1, pp.139-146, 2004.

CARNEIRO, R.G. Cenas de parto e políticas do corpo: uma etnografia de práticas femininas de parto humanizado. Campinas. Tese (Doutoramento em Ciências Sociais) – Curso de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Campinas. 2011.

CARVALHO-TEIXEIRA, J.A. Comunicação e cuidados de saúde: desafios para a psicologia da saúde. Análise Psicológica, v.14, n.1, p.135-139, 1996.

CHAPMAN, R.R. Family secrets: risking reproduction in Central Mozambique. 3a ed Nashville: Vanderbilt University Press, 2013.

COLLAZOS, W.P. La violência simbólica como reproducción biopolítica del poder. Bioética, v.9, n.2, pp.62-75, 2009.

COSTA, T, E.N. et al. Naturalization and Medicalization of the Female Body: Social Control through Reproduction. Interface, v.10, n.20. pp.363-380. 2006.

COUTINHO, M.P.L DE.; SARAIVA, E.R.DE. Depressão pós-parto: considerações teóricas. Estudos e Pesquisas Em Psicologia, v.8, n.3, p.759–773, 2008.

CSORDAS, T. “Embodiment and Cultural Phenomenology. In Weiss, G and Haber, H.F. Perspectives on Embodiment: The Intersections of Nature and Culture, pp.143–62. New York: Routledge, 1997.

DELAMATER, J.D.; e HYDE, J.S. Essentialism vs. social constructionism in the study of human sexuality. The Journal of Sex Research, v.35, n.1, pp.10–18, 1998.

DELEUZE, G. Essays: critical and clinical. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997.

DESJARLAIS, R; e THROOP, C.J. Phenomenological Approaches in Anthropology. Annual Reviews of Anthropology, v.40, n.10, pp.87–102. 2011.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária (1980), 1963,

GINSBURG, F.; RAPP, R. The politics of reproduction. Annual Reviews of Anthropology, v.20, n.2, pp.311–443, 1991.

JARDIM, D.; MODENA, C. A violência obstétrica no cotidiano assistencial e suas características. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.26, n. 3069, pp. 1-12, 2018.

KEMP, K. A relação saúde-doença. In: Guerriero, S. (Org.). Antropos e Psique: o outro e sua subjectividade. São Paulo: Olho d´água, 2012. pp.115-129.

KRUK, M; HERMOSILLA, S; GODFREY, M. Bypassing primary clinics for childbirth in rural parts of the United Republic of Tanzania: a cross-sectional study of deliveries in Pwani region. Bull World Health Organ.; v.92, n.4, pp:246–253. 2014

LEMÕES, T. A corporificação do sofrimento e o trânsito entre vítima e algoz: novas reflexões a partir de etnografias com população em situações de rua. Cadernos de LEPAARQ, v. XI, n.21, pp. 45-61, 2014.

MARIANO, E. The "unsaying" of reproductive affliction in Mozambique witchcraft and local reproductive knowledge. The Oriental Anthropologist, v.16, n.2, p.216-278, 2016.

MARTIN, E. A mulher no corpo: uma análise cultural da reprodução. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

MARTÍNEZ, H.A. Antropología de la salud: una aproximación genealógica. In: PRAT, J.; MARTÍNEZ, A. (Ed.). Ensayos de antropología cultural: Homenaje a Claudio Esteva-Fabregat. Barcelona: Ariel. 1996. pp. 369-381.

MEAD, M. Sex and Temperament in Three Primitive Societies. 3ª Ed. New York: William Morrow & Company, Inc. 1963.

MERLEAU-PONTY, M. La phénomónologie de la perception. Paris: Gallimand. 1945.

MIRAMAR TELEVISÃO. Parto normal e cesário. Maputo: Contacto Directo. 2017.

MATSUNAGA, L. Bodies in Question: Narrating the Body in Contemporary Japan. Contemporary Japan, v.27, n.1, pp.1–11. 2015.

MOÇAMBIQUE. MISAU. Manual técnico sobre assistência ao parto, ao recém-nascido e às principais complicações obstétricas e neonatais. Maputo, 2011a.

MOÇAMBIQUE. MISAU. Política Nacional de Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos. Maputo. 2011b.

MOÇAMBIQUE. MISAU. Parceria Nacional Para a Promoção da Saúde Materna, Neonatal e Infantil em Moçambique. Maputo, 2010

MOÇAMBIQUE. MISAU. Iniciativa Maternidade Modelo. Maputo, 2009.

MOÇAMBIQUE. MISAU. Programa Estratégico de Saúde Reprodutiva do Adolescente. Maputo, 2001.

MOÇAMBIQUE. MISAU. Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes. In Resolução nº 73/2007. Maputo,. 2007.

MOÇAMBIQUE. MISAU. Programa de Assistência à Saúde Materno-Infantil. Maputo, 1984.

MOÇAMBIQUE. MISAU. Programa de Protecção Materno-Infantil (PPMI). Maputo, 1978.

OOSTHUIZEN, SJ. Et al. It does matter where you come from: mothers ‘experiences of childbirth units, Tshwane, South Africa. Reproductive Health, v.14, n.151, pp.1-11, 2017.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Prevenção e eliminação de abusos, desrespeitos e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde. 2014.

PATRIOTA, T. Relatório de CIPD: Plataforma de Cairo, Egipto. Brasília: UNFPA Brasil. 1994.

PEREIRA, P. Antropologia da saúde: um lugar para as abordagens antropológicas à saúde e doença. Revista de Antropologia Experimental, v.15, n.3, pp.23-46. 2015.

REIS, V. Humanização dos cuidados de saúde: Iniciativa Maternidade Modelo. Maputo. 2009.

SANABRIA, E. The body inside out: menstruation management and gynaecological practice in Brasil. Berghahn Journals, v.55, n.11, pp.94-112. 2013.

SARTI, C. A vítima como figura contemporânea. Caderno CRH, v. 24, n.61, p.51-61. 2011.

SOICO TELEVISÃO. Parto cesário: factores que influenciam a sua escolha. Maputo: A tarde é sua. 2017.

COMUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA ÁFRICA AUSTRAL (SADC). Parceira Mundial Para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil. SADC, 2009.

COMUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA ÁFRICA AUSTRAL (SADC). Campanha para a Redução da Mortalidade Materna em África. SADC, 2005.

SILVA, I.C.S.D. Sororidade e rivalidade feminina nos filmes de princesa da Disney. Monografia (Bacharelato em Comunicação Social) – Curso de Jornalismo, Universidade de Brasília. 2016.

THINKWELL. Quality of care in performance-based incentives programs: Mozambique case study. Maputo: USAID. 2016.

VECHIOLI, V. Politicas de la memoria y formas de clasificación social: Quem son las víctimas del terrorismo de Estado en la Argentina? In Groppo, B.; Flier, P. (Org.). La inpossibilidade del olvido: recorridos de la memoria en Argentina, Chile y urguay. La Plata (Argentina): Al Margen, pp. 83-102. 2001.

VÍCTORAS, C.; RUAS-NETO, A. Quem matar os últimos charruas: sofrimento social e luta dos indígenas. Revista Anthropológicas, v.22, n.1. pp. 37-59. 2011.

ONU. UNITED NATIONS GENERAL ASSAMBLY. Declaration on the elimination of violence against women. UN General Assambly. 1993.

ONU. UNITED NATIONS GENERAL ASSAMBLY.. Universal declaration of human rights. UN General Assambly. 1948.

WLSA MOÇAMBIQUE. Violência obstétrica: maus-tratos e crueldade nas maternidades. Maputo. 2013.

YOUNG, I.M. On female body experience: throwing like a girl and other essays. Oxford: Oxford University Press.

##submission.downloads##

Publicado

2021-04-14

Como Citar

Mugabe , E. ., & Mariano, E. . (2021). RELAÇÕES DE PODER E EXPERIÊNCIAS DE VIOLÊNCIA NOS SERVIÇOS DE PARTO NA CIDADE DE MAPUTO. Revista Científica Da UEM: Série Letras E Ciências Sociais, 2(1). Obtido de http://www.revistacientifica.uem.mz/revista/index.php/lcs/article/view/123

Edição

Secção

Artigos