AS PAISAGENS LINGUÍSTICAS E SONORAS DA CIDADE DE MAPUTO COMO POLÍTICAS LINGUÍSTICAS EM MOÇAMBIQUE
Resumo
O presente artigo discute as políticas linguísticas de Moçambique, em especial da Cidade de Maputo, com enfoque nos conceitos de paisagens linguísticas e sonoras. As paisagens são tomadas como manifestações de políticas linguísticas multilingues implícitas que dialogam, directa ou indirectamente, com as políticas linguísticas explícitas. As políticas linguísticas desempenham um papel relevante na dinâmica das línguas, especialmente porque operam como ferramenta pedagógica, a exemplo das políticas educacionais em prol do bilinguismo. O texto aborda também as paisagens linguísticas e sonoras das línguas que são vistas e ouvidas nas cidades, tidas como manifestações identitárias e/ou simbólicas, o que inclui uma série de significados e papeis, como a conexão com os antepassados, a relação com modos de vida e de sobrevivência económica, o uso de rituais e cerimónias, entre outros elementos). Defende-se que as paisagens linguísticas indexam significados culturais, identitários e políticos relevantes, através de uma semiótica da paisagem que mescla códigos escritos, pinturas, desenhos, grafites, sonoros, entre outros, ao passo que a paisagem sonora inclui as experiências dos sujeitos envolvendo o ambiente sonoro, a relação com as sonoridades e o barulho. Os dados foram recolhidos através de fotografias e etnografia, tendo a seguinte questão guia: Que línguas e sonoridades compõem as paisagens linguística e sonora de Maputo? A escolha por Maputo se justifica: trata-se de uma realidade urbana, a capital política do país, onde estão concentradas as principais iniciativas institucionais e culturais, caracterizando-se por um espaço multilíngue rico e complexo.
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